AS ATIVIDADES COMERCIAIS EM BERTIOGA JÁ ULTRAPASSARAM 110 ANOS DE HISTÓRIA

Foto da Vila de Bertioga em 1915

A Vila era praticamente o único cenário povoado do então distrito de Santos, 110 anos atrás

O antigo Centro, às margens do Canal de Bertioga, mais conhecido por Vila é o principal cenário de uma bela história, quando se sabe sobre as primeiras atividades comerciais exercidas no vilarejo, há mais de 100 anos. Afinal, como tudo começou? Como viviam as pessoas nesse tempo e, o que elas faziam para manter suas famílias? Assim sendo, em meados de 1910 foram iniciados os primeiros esforços mercantis em Bertioga, num tempo em que, a principal atividade econômica era a pesca; a iluminação pública não existia e os moradores usavam lampião a querosene para iluminar as casas e os caminhos estreitos ladeados pela mata virgem.

A água para beber e usar na higiene pessoal vinha de poços, ou das nascentes nos morros da Senhorinha ou da Prainha Branca. O transporte, esse ficava encarregado de acontecer pela ação dos próprios pés, ou de veículos com tração animal. Para ir a Santos, local mais próximo com opções para uso da Saúde pública e Educação além da primária, havia uma barca que demorava cerca de três horas para chegar ao destino. O educandário da época, esse era a escola Vicente de Carvalho, onde atualmente é a Colônia de Pescadores, à Avenida Vicente de Carvalho, em frente ao Canal de Bertioga. Posteriormente foi transferido para de frente à Praia, onde hoje é a Casa da Cultura.

A principal atividade econômica era a pesca

Com o tempo, o nome foi mudado para Dino Bueno. Entretanto, antes, o local dava lugar ao primeiro cemitério da cidade, que segundo a história, foi levado por uma espécie de maremoto para o mar adentro. Afirma-se que existem restos mortais humanos até hoje embaixo da edificação. A diversão baseava-se em jogos de futebol, em bailinhos na casa de amigos e quando uma banda da cidade de Avaré aparecia para animar a cidade. As casas já eram feitas de alvenaria, mas pouco tempo atrás eram de pau a pique ou de madeira.

Nesse tempo quando os antigos moradores viviam nesse descrito cenário, a Avenida Vicente de Carvalho era o centro de tudo, onde as atividades de trabalho na vila tiveram o pontapé inicial. E quem inicia contando essa bela história são os descendentes dos pioneiros comerciantes trabalhavam vendendo de tudo, desde a apreciada cachacinha a roupas e remédios.

O primeiro estabelecimento de Bertioga ainda permanece intacto no mesmo local onde foi fundado pelo saudoso João Sabino Abdala em meados de 1910. É o Bar do Sabino, muito conhecido Também por “Tem Tem”. Com a morte do fundador o comércio foi tocado pelo também saudoso João Sabino Filho. Atualmente quem está à frente no estabelecimento é a neta do pioneiro, dona Elizabete Bitencourt Abdala. O estabelecimento ainda funciona à moda antiga vendendo de tudo um pouco, justificando o nome Tem Tem. E ainda tem preservados o balcão, as portas, prateleiras e a cor azul.

Outro estabelecimento que recentemente ainda estava em funcionamento na cidade é o Cantinho do Faninho. Seo Ademar Batista, 77, filho do saudoso Epifânio Batista, fundador da mercearia da família nos anos 50, hoje restaurante em outro local, também de frente ao Canal de Bertioga, conta essa história. “Meu pai começou no prédio antigo onde é a Pousada do Pedrinho. Em 1966 mudamos para onde estamos hoje, mas iniciamos o trabalho culinário no início dos anos 80”, disse seo Ademar que comentou sobre sua diversão favorita, naquele período, ”bater uma bolinha”.

Alias seu filho Fábio, realçou que o pai foi chamado para jogar no São Paulo Futebol Clube e a resposta de Ademar foi: “Naquele tempo futebol não dava dinheiro”. Atualmente seu saudoso pai é lembrado no bairro Jardim Vicente de Carvalho II quando recebe uma homenagem cada vez que alguém pronuncia o nome dele, mesmo sem o falante saber quem foi Epifânio Batista,
nome de rua hoje em dia.

A antigo centro, mais conhecido por Vila, na atualidade, visto de cima em imagem aérea

Descendente de sírios-libaneses, dona Jamile Bichir Canoilas, 82 anos, sempre morou na Vila. Ela é filha de Miguel Seiad Bichir, outro pioneiro entre os comerciantes locais, que também foi homenageado com seu nome em uma rua da Vila Agaó. O comércio dele se existisse hoje, seria na localidade ao lado de onde hoje é uma pastelaria, onde ficava situado o antigo Bar Central, e foi fundado por volta de 1930. Era como os outros, onde se vendia de tudo, sendo conhecido como a venda Praia Preta.

“Meu pai ia buscar uma cachaça lá no alambique da Praia Preta, e a cachaça que ele vendia ficou famosa na época”, ressaltou dona Jamile, se referindo ao local que fica quase que ao lado da Prainha Branca, no município de Guarujá. A simpática senhora de cabelos brancos continuou contando bastantes histórias interessantes sobre a cidade: que existia naquele tempo um estabelecimento como os da Vila, no Indaiá, cujo proprietário era conhecido como senhor Jorge Isaac. Ela também realçou a existência do senhor que tinha nome de anjo, seo Miguel Arcanjo, que tocava o sino para avisar que a barca que ia para Santos estava chegando; enfatizou que a igreja São João Batista tinha padre para rezar a missa apenas uma vez por mês, entre outros contos que renderia um belo livro sobre a cidade. “De vez em quando vinha pra cá a banda da Corporação Musical do Orfanato São Nicolau de Avaré. Me lembro que as meninas até choravam quando eles iam embora. Era a diversão que a gente tinha”! Destacou dona Jamile “.

O saudoso Ney Moura Nehme, que se estivesse vivo hoje teria 76 anos, foi corretor de imóveis desde 1966 e, vereador nos mandatos de 92 a 96, e de 96 a 2000. Nesta história ele representou seu avô Elias Nehme, também comerciante antigo do Centro da cidade. Ney contou que o patriarca da família veio do Líbano para Bertioga em 1900. “Ele começou vendendo miudezas, desde agulhas, sabonetes, até tecidos. Ele saía de Bertioga no lombo de um burro e ia vendendo esses produtos até Paraty (RJ). E na volta, ele trazia farinha torrada, peixe seco, milho e vinha vendendo voltando pra Bertioga”, disse o ex-vereador explicando a história do avô que parou de viajar e montou seu negócio em 1920 e depois o ampliou construindo um armazém maior, onde era o já referido nesta história, bar Central, em 1939. “O nome era Mar e Terra, e lá vendia de cachaça a roupas e remédios”, explicou.

O boom imobiliário – Conversando com Ney, foi possível entender como foram iniciados os bairros na cidade. De acordo com ele, a procura de terras era muito maior que a oferta. “As vendas funcionavam como se fosse um leilão. Quando havia um terreno para ser vendido de frente à praia, um oferecia uma quantia em dinheiro maior que a do outro. E arrematava quem pagasse mais”, enfatizou esboçando como cresceram os bairros. “Por exemplo, aqui no Jardim Rio da Praia, foi quando o Sesc foi construído na década de 40. Os hospedes do Sesc começaram a comprar os lotes. Depois os funcionários e outras pessoas”, esclareceu Ney realçando posteriormente o mesmo acontecimento nos outros bairros, quando os lotes começaram a ser desmembrados para venda. “No Jardim Rafael o loteamento era da família Costábile, na Vista Linda, da família de Zulmira Piloto, foi assim sucessivamente”, esclareceu Ney Nehme.

Fonte: reportagem de Willian Santos publicada no Jornal Folha News