CÂMERAS CORPORAIS E CAPACITAÇÃO TÁTICA GANHAM DESTAQUE EM EVENTO NO CLUBE CARAMURU, EM BERTIOGA
ESPECIALISTAS E AUTORIDADES DISCUTEM TECNOLOGIAS, PROTEÇÃO LEGAL E O FUTURO DA SEGURANÇA PÚBLICA, COM PARTICIPAÇÃO ATIVA DA GCM E FORÇAS ESTADUAIS

O Clube de Tiro e Centro de Formação Caramuru, em Bertioga, reuniu importantes nomes da segurança pública para debater o uso de câmeras corporais e a capacitação técnica dos profissionais da área. O evento aconteceu na terça-feira, dia 6, e contou com a presença de representantes das Guardas Civis Municipais de Bertioga e Guarujá, membros da Polícia Militar e da Polícia Civil da Baixada Santista, além de agentes especializados e convidados renomados. O encontro abriu espaço para reflexões práticas e jurídicas sobre o uso dessas tecnologias no cotidiano dos profissionais da linha de frente.
A secretária de Segurança e Mobilidade Urbana de Bertioga, Thalita Walperes, destacou a relevância do evento como uma oportunidade de “ampliar o olhar” sobre os registros feitos pelas câmeras corporais. Segundo ela, o debate trouxe contribuições significativas para os profissionais da segurança e colabora diretamente para o aprimoramento da atuação desses agentes. Thalita ressaltou que o uso das câmeras oferece novas perspectivas sobre postura e conduta no exercício da função, com impacto direto na proteção dos profissionais.

Ela também celebrou a presença do juiz militar Dr. Roth, cuja experiência de 50 anos foi considerada valiosa. A secretária o convidou para ministrar palestras voltadas à GCM, Polícia Militar e Polícia Civil em Bertioga, e confirmou que a agenda já está sendo organizada. Durante o evento, reencontrou ainda o instrutor Elias Júnior, que colaborou com a formação dos 100 novos guardas da GCM em 2024.
Sobre o uso das câmeras corporais na GCM de Bertioga, Thalita afirmou que a intenção é implementá-las futuramente, mas que o foco atual está na ampliação do sistema de videomonitoramento por meio do programa Muralha Paulista. Segundo ela, Bertioga está na rota de expansão do projeto e pode ser escolhida para o lançamento na Baixada Santista, com presença confirmada do secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite. A secretária reforçou a integração entre o município e o Estado, valorizando a estrutura de segurança da cidade, e ressaltou a importância do Clube Caramuru como polo de formação e capacitação profissional.

O advogado Dr. Merson Nor Júnior, o Mersinho, 42 anos, presidente do Caramuru e filho do fundador e presidente de honra da instituição, Merson Nor, foi o anfitrião do evento. Ele destacou a presença de figuras relevantes como juízes, representantes da Polícia Civil, do GOE e da GCM. Mersinho enfatizou a necessidade de se compreender os dois lados do uso das câmeras corporais: enquanto ferramenta de proteção ao agente e como possível fonte de interpretações equivocadas, especialmente quando há falhas técnicas nas gravações. Para ele, o encontro “dá visibilidade a todos os ângulos da atuação policial”.
O secretário adjunto de Defesa e Convivência Social de Guarujá, Dr. Sérgio Zagarino, 35 anos, mestre e especialista em políticas de segurança pública, reforçou a importância da qualificação contínua dos guardas civis. Ele defendeu o papel do Caramuru como parceiro essencial da GCM do Guarujá. “A capacitação funcional é o que garante que nossos agentes estejam aptos para servir com eficiência e legalidade”, afirmou.

O comandante Éder Nilo Lima, da GCM do Guarujá, com 25 anos de carreira, também esteve presente com sua equipe. Com formação em Administração e diversas certificações na área de segurança, reforçou que o objetivo dos treinamentos é “aperfeiçoar o atendimento ao cidadão e às operações diárias”. Ele também reconheceu o apoio institucional de Merson Nor e Mersinho como importantes parceiros da GCM regional.
O especialista em segurança pública Johnny Mascarenhas de Queiroz, 57 anos, veterano do GATE da Polícia Militar e atual coordenador dos cursos do Caramuru, chamou atenção para a necessidade de uma análise técnica criteriosa sobre o uso das câmeras. “É preciso entender como, quando e em que contexto utilizar esse recurso. A ciência policial é complexa e exige critério, não achismos”, pontuou. Johnny também apresentou a estrutura dos cursos oferecidos pelo centro, incluindo formação e especialização em áreas como gerenciamento de crises, segurança privada e uso de drones.

O coronel Lira Júnior, com 31 anos de experiência na PM e ex-secretário de Segurança de Bertioga, compartilhou sua trajetória, que começou justamente na cidade. Atualmente, atua como instrutor no Caramuru, ministrando aulas de defesa pessoal, condicionamento físico e artes marciais. “A imobilização é uma ferramenta essencial e, muitas vezes, mais usada que o próprio armamento”, observou, ao destacar a importância do preparo físico e técnico dos agentes.
O capitão Juliano Marques de Azevedo, comandante da 4ª Cia do 21º BPM/I, participou coordenando o Estágio de Atualização Profissional (EAP), voltado aos sargentos da PM. “Estamos aqui para garantir que os primeiros comandantes operacionais da PM estejam devidamente habilitados no uso de armamento e preparados para os desafios da rotina policial”, afirmou.
O evento reforçou o papel do Caramuru como centro de excelência na formação e atualização de agentes de segurança e abriu espaço para um debate plural sobre tecnologia, responsabilidade e capacitação no serviço público.

ELIAS JÚNIOR DEFENDE REVISÃO DO USO DE CÂMERAS CORPORAIS EM AÇÕES POLICIAIS
Durante o evento, o especialista em segurança pública e comunicador Elias Júnior — conhecido por seu trabalho como cinegrafista policial desde os anos 1990 e por ter produzido o longa-metragem Rota Comando — fez uma crítica contundente ao uso das câmeras corporais na Polícia Militar. Com 31 anos de experiência embarcado em viaturas e mais de três mil ocorrências registradas, Elias argumentou que os dispositivos, embora promovidos como ferramentas de transparência, não representam com fidelidade o que o policial vivencia em campo.
Segundo ele, as câmeras limitam o campo de visão e podem comprometer a atuação em situações críticas, contribuindo para o aumento da criminalidade e gerando impactos psicológicos na tropa. O comunicador também apontou questões de privacidade, saúde (como possível exposição à radiação) e dificuldades operacionais, especialmente em patrulhamentos prolongados.

Durante sua apresentação, Elias anunciou um projeto audiovisual que simula ocorrências reais, comparando imagens das câmeras corporais com a perspectiva do policial, com o objetivo de denunciar possíveis injustiças em processos disciplinares.

Ele também questionou a eficácia das câmeras na redução da criminalidade, classificando como “precipitada” a decisão do governador Tarcísio de Freitas de expandir o uso dos equipamentos sem estudos aprofundados. Para Elias, o modelo ideal seria semelhante ao do projeto Smart Sampa, que utiliza câmeras fixas para monitoramento urbano, e não acopladas ao agente de segurança — cujo trabalho, segundo ele, exige liberdade de ação diante de criminosos que não seguem regras.
A união entre prática, teoria, tecnologia e ética marcou o tom do encontro, que reafirmou o protagonismo de Bertioga na busca por soluções modernas e responsáveis para os desafios da segurança pública no país.
