PASTEL DO TREVO: UM LUGAR, UM EMBLEMA, UMA HISTÓRIA DA CIDADE QUE DEIXARÁ BOAS LEMBRANÇAS E MUITAS SAUDADES

“Naquele tempo, no Trevo da Rio-Santos com a então Avenida Enseada III, era tudo mato. No local, entre casas e comércios, não passavam de seis. O Supermercado Albatroz já estava instalado na esquina, a empresa ainda estava começando. A Rio-Santos, recém-inaugurada, ainda estava asfaltando”, explica o empresário

Aqui se fala de alguém que possivelmente terá que sair de um lugar que conquistou com muito trabalho, transformando-o num estabelecimento de quitutes dos mais conhecidos e reconhecidos do país. Bertioga vai perder com isso, porém essa é uma outra história. E voltando a falar sobre um trailer de pastel muito especial, pois aqui se fala do Pastel do Trevo, é válido lembrar de como tudo começou, através das boas ideias de um empreendedor que também é um “cozinheiro de mão cheia”.

Ele é um empresário respeitado em todo o Brasil que nasceu no município de Delfim Moreira – MG em 26 de janeiro de 1957. Um bom mineiro que viveu na referida cidade até aos 14 anos de idade. Esse é o cara! Trata-se de Donizete Aparecido da Silva, o “Donizete do Pastel do Trevo”, oriundo de uma família de cinco irmãos, que teve sua infância na fazenda onde a família trabalhava. A mãe dele é natural de Delfim Moreira e o pai é de Piquete-SP. Desde os sete anos de idade ele ajudava os pais e realizava serviços na ‘lida’ com o gado, amarrando as patas traseiras das vacas e apojando os bezerros. Ele mesmo explica o que é Apojar, porque era craque no assunto.

“Antes de tirar leite da vaca, os colonos põe o bezerro pra mamar. Assim que o bezerro pega uma teta, eles puxam a cabeça e fazem ele pegar outra teta, e, fazem isso até mamar um pouquinho em todas a tetas, daí a vaca desce o leite e eles conseguem tirar quase todo, deixando apenas uma sobra para o bezerro”, fala Donizete, ainda contando que quando ele tinha 14 anos, a sua família se mudou de Delfim Moreira, para trabalhar em outra fazenda em São Roque, onde ele viveu até os 22 anos. E nessa cidade, ele continuou trabalhando na lida com o gado mas, Donizete queria ganhar o mundo e foi morar em Santo André, em busca de emprego. Trabalhou em uma indústria têxtil por 10 anos. Entrou na empresa como faxineiro, depois foi ser ajudante geral, operador de máquina e chegou a ser líder de grupo.

Com esse trabalho, ele juntou dinheiro para realizar o sonho de trabalhar por conta própria. O dia de ele conhecer Bertioga tava por chegar. Em 1977 ele conheceu Bertioga (veio a passeio) e viu que o então distrito de Santos era a entrada para os municípios do Litoral Norte. Observou que a nata paulistana que ia para o Litoral Norte passava por Bertioga. Foi quando percebeu que Bertioga tinha um grande futuro. Nessa época, Donizete já era fã do pastel, para ele, um produto especial e apreciado por todos. Em sua casa, ele preparava pastéis para a família e com o tempo foi se especializando no preparo do quitute que faria dele um homem de muito sucesso. Sobre seu talento culinário ele aprendeu lidando cozinhar no fogão a lenha, na época em que morou na roça.

POR QUE PASTÉIS?

O empresário que sempre apreciou de tudo o que existe na boa culinária, entre muitos quitutes, o que ele mais gostava de comer eram os pastéis nas feiras de São Roque, Santo André e São Paulo. Ele sempre enfatizou o salgado como um produto (abençoado, muito gostoso), porém, na opinião dele faltava algo, pois poderia ser ainda melhorado. “Naquele tempo, só existiam pastéis pequenos, com 12cm e 18cm. Resolvi então incrementar o produto. Isso no ano de 1988, quando eu já havia saído do emprego e, com o dinheiro da rescisão, comprei uma Kombi para vender pastel”, diz.

Donizete teve a ideia de fazer o pastel gigante, com 30cm e bastante recheio. O lançamento foi em Bertioga, no antigo Terminal Turístico que ficava de frente à praia no Jardim Rafael, justamente para atender o público exigente que passava pelo então distrito rumo ao Litoral Norte. Contudo, neste mesmo ano de 1988 ele ainda não residia em Bertioga. Ele descia a Serra do Mar para trabalhar. Primeiro, estacionava a Kombi em um ponto no Terminal Turístico, porém, mais tarde (ainda no mesmo ano) conheceu o Trevo da antiga Avenida “Enseada III” (atual Avenida 19 de Maio) e resolveu mudar o local de trabalho. Até por causa da concorrência, trabalhava muita gente no Terminal e já ali, no Trevo, ele ficaria sozinho naquele ponto. Ele também já havia observado que o local era passagem de quem viajava para o Litoral Norte, mas (…)

A VISÃO EMPREENDEDORA

“Naquele tempo, no Trevo da Rio-Santos com a então Avenida Enseada III, era tudo mato. No local, entre casas e comércios, não passavam de seis. O Supermercado Albatroz já estava instalado na esquina, a empresa ainda estava começando. A Rio-Santos, recém-inaugurada, ainda estava asfaltando. Passava pouca gente pelo local, o pessoal que ia para o Litoral Norte, geralmente, saia da balsa e ia de carro pela praia até a Vista Linda, e só ali entravam na Rio Santos. Mas aos poucos, o movimento pelo Trevo ia aumentando. O pessoal começou a descobrir o local, onde o percurso era mais seguro, sem o risco de atolar na areia da praia”, ressalta Donizete.

Ainda em 1988, a possante e velha Kombi foi substituída por um trailer. O administrador regional do então distrito de Santis era o Renato Faustino, o Renatinho, que mais tarde alcançaria à vereança. E com o passar do tempo, os pastéis gigantes de Donizete passaram a conquistar o paladar dos viajantes que iam ou voltavam do Litoral Norte. Ele ganhou clientes ilustres, como a apresentadora Ana Maria Braga. No início da década de 1990, ela e a família sempre passavam pelo trailer. O saudoso Tom Veiga, que dava vida ao papagaio Louro José, também frequentava o trailer. A famigerada apresentadora convidou Donizete para fazer o pastel em seu programa de TV, na época na TV Record, o “Note & Anote”. Segundo Donizete, Ana Maria Braga disse para ele que foi um dos dias com maior audiência. Depois da apresentação no programa, os principais jornais e revistas do país também apareceram para entrevistar o inventor do pastel gigante, com muito recheio. E os representantes de mídia (…) nem é preciso dizer que eles adoraram experimentar a iguaria e ainda ficaram com gostinho de quero mais, guardado nos paladares que aprovaram o sabor.

Além de Ana Maria Braga (atualmente na TV Globo), ele se apresentou nos programas da apresentadora Cátia Fonseca (atualmente na TV Bandeirantes), Claudete Troiano (hoje na TV Aparecida), Edu Guedes (hoje na TV Bandeirantes), José Luiz Datena (TV Bandeirantes), entre outros. Com o sucesso, Donizete chegou a conceder o uso da marca “Pastel do Trevo” para outras empresas, no Paraná, Bahia (Porto Seguro), São Paulo (Capital), São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes, Campos do Jordão, Santos e em outras cidades.

Os interessados faziam até mesmo um estágio com ele para aprenderem a preparar o pastel no formato Pastel do Trevo. Atualmente essas concessões acabaram, somente existem, uma em Caraguatatuba e outra em São Sebastião, ambas no Litoral Norte Paulista. Mas como quem é rei nunca perde a majestade, Donizete e o Pastel do Trevo ainda mantém o título de criador do maior pastel do Brasil, com três metros e meio, pesando cerca de 300 quilos. “É só pesquisar no Google, “qual o maior pastel do Brasil?; que aparece lá! ” Quem quiser um pastel gigante desse para um evento, é só encomendar com o Donizete. “É o maior do Ranking Brasil! ”. Ele também é o criador da coxinha gigante e do risole gigante, ambos os maiores do ranking nacional.

A fama dos quitutes de Donizete trouxe clientes ilustres para o trailer, como a ex-primeira dama estadunidense e viúva do magnata grego Aristóteles Onassis, Jacqueline Lee “Jackie” Bouvier Kennedy Onassis, que chegou a frequentar o trailer com seus filhos e netos. Ela além do atleta João Carlos de Oliveira (in memoriam), conhecido como João do Pulo; do ator e empresário Bruno Gagliasso, o cantor Luciano, da dupla de música sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano; entre outras celebridades.

No entanto, na opinião do Donizete, o cliente mais ilustre é a população bertioguense. “Agradeço o povo da cidade que me recebeu de braços abertos, e a Deus que permitiu eu me instalar nessa pequena faixazinha. Me considero um bertioguense nato, cheguei aqui com 32 anos e hoje estou com 64. Cheguei aqui quando Bertioga estava ainda no comecinho, participei da emancipação, da primeira eleição e de outros momentos marcantes. Tive muita sorte e a ajuda de Deus, vi a cidade se desenvolver. Sou um dos primeiros bertioguenses, o distrito virou município e eu estava aqui”, orgulha-se Donizete. Mesmo depois desse tempo, para o empresário, a cidade está no começo. “Ainda tem muito para crescer, tem espaço ainda para muita gente quando o assunto é oportunidade, tanto em Bertioga como o Litoral Norte. Quem vier para trabalhar, focado em um objetivo, ainda vai encontrar espaço para progredir”, enfatiza.
Infelizmente por conta de uma briga jurídica com a prefeitura toda uma história pode ruir, mas os bons momentos vão ficar guardados na lembrança e no paladar de quem frequentou o trailer de pastel mais famoso do Brasil.