O TEM-TEM DE DONA BETE: A HISTÓRIA SABOROSA DA VENDA MAIS ANTIGA DE BERTIOGA

NO CORAÇÃO DO CANAL, ARMAZÉM TEM-TEM É MUITO MAIS QUE UM COMÉRCIO — É MEMÓRIA VIVA DA CIDADE, CUIDADA COM CARINHO POR ELIZABETE BITENCOURT ABDALLA, A DONA BETE

Se você anda pelas bandas do Canal de Bertioga e sente aquele cheirinho de história misturado com café fresco e pão na chapa, pode ter certeza: chegou no Armazém Tem-Tem. E ali, atrás do balcão, com um sorriso no rosto e mil causos pra contar, está Dona Bete — ou Elizabete Bitencourt Abdalla, pra quem gosta das formalidades.

Aos 77 anos, que completa agora no dia 12 de junho, Dona Bete é mais que comerciante: é guardiã de um pedaço precioso da história de Bertioga. Nascida e criada na cidade, ela cuida com zelo do armazém que foi fundado pelo seu avô, João Sabino Abdalla, um imigrante libanês que chegou ao Brasil em 1907, aos 17 anos, com uma sacola de coragem e o sonho de vencer.

João Sabino começou a vida por aqui como mascate — sim, desses que vendiam de tudo, de porta em porta. Subia a serra a pé, carregando tecidos, panelas e outras miudezas, desbravando o litoral paulista. Até que, em 1920, decidiu firmar o ponto no bairro Indaiá, com uma venda de secos e molhados. Doze anos depois, em 1932, transferiu o comércio pro endereço atual, na Avenida Vicente de Carvalho, bem de frente pro canal, onde hoje fica o famoso Tem-Tem.

E de onde vem esse nome curioso? Tem história. Quem conta é a própria Dona Bete, com risada solta: “Meu tio, João Sabino Filho, mandou fazer uma placa com os dizeres ‘Têm artigos de pesca…’, só que o rapaz que pintou o letreiro acabou escrevendo ‘Tem Tem’, sem acento e com a palavra repetida. Um dia, um freguês perguntou pro meu tio: ‘Por que o nome da venda é Tem-Tem?’ Ele estranhou e perguntou de volta. Aí o cliente levou ele até o jardim, olhou de frente pro letreiro e mostrou: ‘Olha lá o nome!’ Foi aí que meu tio viu que o pintor tinha errado e escrito ‘Tem Tem’. Ele até pensou em mandar arrumar, mas o freguês já emendou: ‘Agora já pegou, deixa assim mesmo!’ E ficou Tem-Tem até hoje.

”E o Tem-Tem tem de tudo, viu? Vai de doces, salgados e bebidas geladas até artigos de pesca, linha, agulha, bota, capa de chuva, cola, caneta… Se você precisa, Tem-Tem. Se nem sabe que precisa, Tem-Tem também.

Dona Bete cresceu dentro do armazém, trabalhando ao lado do pai, Waldemar Bitencourt Abdalla (1921-1984), e do tio, João Sabino Filho (1939-2006). “Minha vida foi aqui. Sempre fui solteira, não tenho filhos, mas tenho o Tem-Tem, meus fregueses e essa cidade que eu amo. Bertioga é minha terra, minha paixão.

”Hoje, o Armazém Tem-Tem não é só um comércio — é ponto de encontro, é história viva, é patrimônio afetivo de uma cidade que cresceu ao redor do balcão da Dona Bete. E ela segue firme, dia após dia, mantendo viva a tradição de uma família inteira de comerciantes que ajudaram a construir Bertioga.

Então da próxima vez que passar pela ponte de atracação do canal, dá uma paradinha no Tem-Tem. Além de encontrar o que precisa, você ainda ganha um bom papo, um sorriso sincero e uma aula de história com Dona Bete — a verdadeira alma do armazém mais famoso e querido da cidade.