UM CAIÇARA DA GEMA QUE VALORIZA A CULTURA LOCAL, ATUALMENTE DEFASADA
Jair Braz é nascido e criado em Bertioga, oriundo do bairro Boracéia, do Canto do Itaguá. Ele foi presidente do Rotary Club por duas gestões, sendo o único Caiçara legítimo que esteve à frente da entidade
Um caiçara de raiz nascia em Boracéia, na comunidade do canto do Itaguá, em 25 de julho de 1974. O nome dele é Jair Rosário Braz, mais conhecido por Jair Braz. Neste referido local ele foi criado e Bertioga foi onde ele cresceu como trabalhador, como um ser humano. Jair trabalha na JR Contabilidade há 21 anos, sendo muito popular neste ramo de serviço.
Filho do casal Sisino Braz (o Xandico) e Dona Ana do Rosário, ele conta que a infância em Boracéia era tranquila. À época não existia internet e redes sociais, e ele brincava com amigos e parentes, principalmente por ter bastantes primos. A família Braz e a família Rosário são tradicionais em Boraceia. Jair diz que tanto o avô paterno quanto o materno são de Barra do Una, bairro de São Sebastião.
O avô paterno dele, Manoel Braz, veio morar em Boracéia no início de século passado, falecendo antes do neto vir ao mundo. O avô materno, Alcides Rosário, popularmente conhecido por “seo Doca”, foi morar em Boracéia na década de 1950. Ele também é oriundo de Barra do Una, onde costumava sempre frequentar, por ser uma localidade próxima. Naquele tempo, todos eram eram pescadores, praticantes da única atividade econômica local.
Jair Braz iniciou os estudos na antiga “Escola Isolada de Guaratuba”, que ficava localizada na divisa dos bairros Guaratuba e Boracéia. Isso nas décadas de 1970 e início da década de 1980, em tempos em que nesses ditos lugares, moravam pouca gente. Afurma-se que umas sete famílias, apenas, sendo que a população não chegava a 60 pessoas. Jair lembra que tinha muito mato e muito bicho: cotia, tamanduá, paca, capivara, tatú, macaco, entre outros que eram facilmente avistados. E havia também aves como, tucano, jacu, papagaio, inhambu-chororó e muito mais.
Braz diz que peixes também não faltavam, tanto no mar como nos rios, era fartura. Ele participava de pesca de arrasto com o pai e o avô materno, com o uso de uma canoa. E ele diz. “De maio a julho é época de tainha”. Braz conta que no tempo de infância era tudo muito bom, não havia as maldades que existem hoje. As drogas não existiam naquele tempo.
Braz conta que inverno é mês de tainhas para os caiçaras
A diversão das crianças era brincar, pescar ou nadar no Rio Guaratuba ou na praia. Ele começou a frequentar o Centro do então distrito de Bertioga, quando foi fazer o ginásio no colégio William Aureli, e meados de 1986, onde estudou da 5ª série à 8ª série. Depois, como todo bertioguense daquele tempo, foi estudar no colégio Armando Belegarde, onde realizou o colegial, que hoje se chama Ensino Médio, terminando essa etapa de estudos em 1992.
Jair Braz trabalhava por conta própria, fazia cobranças. Depois surgiu uma oportunidade de emprego no escritório JR Contabilidade (empresa instalada na cidade há 27 anos) onde atua há mais de duas décadas, como já mencionado. Em todo esse tempo, ele avalia que Bertioga se desenvolveu de forma promissora, pois novas empresas se instalaram no município, a assim, surgiu mais oportunidades de trabalho. Para ele, o comércio trouxe vida própria para a cidade, porém, a população bertioguense dependente ainda de Santos em muitos aspectos.
Braz enfatiza que, embora Bertioga ainda seja uma cidade jovem, os gestores deveriam focar mais no Turismo, o grande potencial do município, a vocação econômica da região. “O Turismo Náutico, o turismo cultural. A cidade é a primeira Vila do Brasil, daqui saíram pessoas para fundar São Vicente, Santos e o Rio de Janeiro. Deveriam focar na história. Temos festas tradicionais e centenárias em Boracéia, São Lourenço, Barra do Una, que apesar de ser São Sebastião é aqui pertinho. Falta o pessoal (nossos governantes) valorizar as famílias caiçaras tradicionais. Que lutaram, construíram os alicerces da cidade. Aqui não tinha hospital, não tinha ônibus (transporte coletivo). É necessário valorizar o caiçara, valorizar a cultura caiçara. O caiçara ainda vive na cidade. Existem muitos caiçaras aqui”, destaca Jair Braz, ainda dizendo mais sobre o assunto.
“Toda cidade litorânea valoriza o caiçara, Guarujá, Iguape, São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba, Parati-RJ, etc. O caiçara deve ter o seu reconhecimento. Isso é falta de conhecimento da história da cidade, por parte de nossos governantes. O caiçara legítimo é o que tem raiz, que é filho, neto, bisneto de caiçaras. Sou radical quanto a este assunto. A pessoa que nasceu aqui, mas os pais vieram de fora, não considero caiçara”, salienta.
Uma bela festa típica no Canto do Itaguá
Braz acredita que a cultura caiçara esteja sendo esquecida porque a cidade cresceu muito, com a abertura da Rio-Santos e Mogi Bertioga, veio muita gente morar nela. “Crescimento desorganizado, o governo do Estado esqueceu que Bertioga não tinha estrutura, prova disso era como ficava o Terminal Turístico, no Jardim Rafael, lotado de gente”, comenta. Ele se orgulha de ser o primeiro e único caiçara a presidir um Rotary Club na cidade. Único porque, segundo ele, não tem mais caiçara (legítimo) no Rotary. Ele esteve à frente da entidade por duas vezes, de 2010 a 2011, e 2011/2012. Foi eleito o segundo melhor do distrito e recebeu do Rotary club Internacional, uma moção com honras.
“Isso me é um grande motivo de orgulho e de felicidade, pois apenas 19 presidentes foram homenageados e eu estive entre eles. Isso muito me incentivou, quando nesse trabalho, já realizamos eventos como o (Criança Contente Depende da Gente), em que fizemos uma grande festa e distribuímos presentes para a criançada. Também realizamos eventos como o Natal sem Fome, em que distribuímos três toneladas de alimentos, entre outros, que me deixaram muito feliz por eu ter participado”, encerra Jair Braz.